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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O zapping do rato

Um ano decorrido desde a criação deste blogue, durante o qual se viajou virtualmente à volta do mundo, tentando-se encontrar websites e blogues de instituições museológicas, patrimoniais e outras de interesse, para as conhecer e dar a conhecer, impõem-se algumas considerações.

O que é, exactamente um bom blogue ou um bom website?

Supostamente, o que principalmente queremos encontrar num blogue ou website, é informação escrita e visual cientificamente correcta, o mais completa possível, à distância do conforto de um clique no rato.
No entanto, essa informação tem de ser apresentada de uma forma visualmente atraente, com um bom design gráfico - caso contrário, nem nos damos à maçada de tentar ler. Encontram-se demasiados websites e blogues que, em termos de formatos, cores e escolha de lettering são tão pobres ou tão mal concebidos, que não possibilitam um segundo olhar, fazendo-se, imediatamente, zapping com o rato, de retorno à página de pesquisa.

Especificamente no caso dos websites das instituições museológicas, seja por constrições orçamentais, de menor sensibilidade, interesse e investimento na área do webdesign da página do museu ou por simples falta de recursos humanos técnicos e tecnológicos, a ausência de conteúdos apelativos, de multimédia e de interactividade limita muito o interesse dos que acedem a essas páginas. Este é um facto particularmente grave, nesta era das novas tecnologias, porque o primeiro contacto que se tem com um museu é através da sua página na internet, pelo que a falta de investimento no desenvolvimento dessa página se torna desastroso em termos da divulgação e marketing de qualquer instituição.

É certo que muito se tem evoluído tecnologicamente com a web 2.0 a proporcionar um maior desenvolvimento nas páginas de muitas instituições museológicas e patrimoniais (a saber que possibilidades trará a futura web 3.0), mas muito há ainda por fazer. A boa notícia é que muitos websites têm sido melhorados desde há um ano para cá - muitos ainda de modo insuficiente, mas algum esforço é visível (veja-se o caso da esmagadora maioria dos museus municipais portugueses, sem página própria, alojados nas páginas das Câmaras Municipais, ultimamente com sensíveis melhorias em termos de imagem, mas permanecendo totalmente estáticos e ineficazes como páginas de museu, tal como sucedeu anteriormente com as páginas de museus municipais, da Geira).

Igualmente, o desenvolvimento de conteúdos multimédia através da reconstituição de ambientes naturais e históricos, com edifícios e cidades recriados a partir dos sítios arqueológicos, desenvolvidos por diversas empresas e universidades, em vários países, tem permitido visitas virtuais - "viagens no tempo", não só nos próprios museus, como nas visitas virtuais oferecidas nos conteúdos das páginas de alguns museus.

De enorme utilidade serão cada vez mais as aplicações destas tecnologias de alta precisão, na constituição de bancos de dados virtuais para o estudo científico dos achados arqueológicos, evitando os riscos que um contínuo manuseamento das peças implicam, em termos de conservação, assim como um ganho extraordinário no acesso global à recolha de dados e na poupança de tempo e de custos de investigação.

Assim, em conclusão, para se evitar o impaciente zapping do rato, há alguns factores a ter em conta:

- O investimento em webdesigners, designers gráficos e tecnologias de última geração é fundamental na criação do website de uma instituição museológica, para garantir uma imagem de impacto inicial e continuada do museu;

- Uma das melhores acções de marketing do museu é o seu website, antes, e após a visita, assegurando a continuação dos laços que o visitante estabelece com o museu, exigindo uma página que mantenha conteúdos actualizados, cientificamente correctos mas acessíveis, conteúdos multimédia (filmes, reportagens, visitas virtuais, recriações 3D), visitas guiadas online e conteúdos pedagógicos atraentes para crianças, família e escolas, e as actuais utilidades interactivas (loja virtual, bilhetes online, notícias diárias do museu e das suas exposições, sondagens, blogues, fóruns...etc.). Um exemplo muito bom será o do Museu do Louvre (Paris, França);

- Um dos pontos a ter muita atenção é a correcção no uso do vocabulário museológico na página web, para evitar, mais uma vez, o zapping do rato. Dão-se apenas dois exemplos:

- Um erro frequente em páginas web de museus um pouco por todo o mundo é a confusão entre "visita virtual" e "guia" e/ou "roteiro" (em versão reduzida). A "visita virtual" não é um simples guia e roteiro online, com textos mais ou menos longos e fotografias de algumas peças das colecções do museu. Uma "visita virtual" é uma visita através de um pequeno filme ou de imagens em movimento, em rotação de 360º, reconstituição virtual em 3D - algo, enfim, que nos permita visitar virtualmente o espaço museológico ou musealizado (sítios arqueológicos, monumentos...) e as suas colecções. Um exemplo de uma visita virtual é a visita a Stonehenge ;

- Outro erro frequente é a designação de "museu virtual" que, mais uma vez, também não é uma colecção de textos e fotografias e sim, um museu criado online, com ou sem correspondência física com um museu real, com conteúdos multimédia de modo a proporcionarem aos visitantes visitas virtuais, informação, interactividade, actividades pedagógicas e bancos de dados e imagens (não se devem limitar a ser bancos de dados e imagens). Bons exemplos de museus virtuais são o MUVA - Museo Virtual de Artes El Pays (Uruguai) e o Museu Virtual de Aristides de Sousa Mendes (Portugal). Menos bons exemplos serão a Web Gallery of Art e o Museum with No Frontiers - Discover Islamic Art, que funcionam, sobretudo, como fabulosos bancos de dados e de imagens, com visitas virtuais infelizmente demasiado semelhantes a guias e pequenos roteiros online... estáticos.