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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Museu da Cortiça: Conclusões


A Jornada de Reflexão sobre o futuro do Museu da Cortiça (Fábrica do Inglês, em Silves), realizou-se no dia 26 de Junho. Nesse encontro foi produzido um documento com as Conclusões, já se encontra disponibilizado no site do ICOM-Portugal, e ao qual se pode aceder, igualmente, aqui.

É de notar que este museu, com um dos maiores espólios documentais existentes sobre a indústria e exportação da cortiça, em Portugal, remontando a 1870, onde foram investidos 12 milhões de euros, foi inaugurado em 1999 e recebeu o Prémio Luigi Micheletti, como o Melhor Museu Industrial Europeu em 2001. A insolvência do maior accionista da Fábrica do Inglês, o grupo Alicoop, levou o museu a encerrar portas a 18 de maio de 2010.

Pede-se no documento das Conclusões que, de uma classificação de "imóvel de interesse municipal", se passe, pelo menos, para a classificação de "imóvel de interesse público", como uma das medidas urgentes de protecção legal e salvaguarda do património imóvel e integrado que o constitui.

De ora em diante, infelizmente, visitas apenas na sua página Web:

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

No dia 18 de Junho, na sua casa em Lanzarote, partiu deste mundo José de Sousa Saramago, Jornalista, Argumentista, Dramaturgo, Escritor, Poeta, Pensador, Humanista, Prémio Camões (1995) e Prémio Nobel da Literatura (1998), o Inconformado, o Português que se preferia ver Ibérico, o Homem.

Tendo escrito livros tão memoráveis como Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Jangada de Pedra ou o Ensaio sobre a Cegueira, entre outros, relembro aqui uma das suas crónicas, escrita em tom de conto de fadas moral, que convido vivamente à sua posterior leitura integral, e da qual cito os dois primeiros parágrafos e refrão:

"Era uma vez um rei que nascera com um defeito no coração e que vivia num grande palácio (como sempre costumam ser os palácios dos reis), cercado de desertos por todos os lados, menos por um. Seguindo o gosto da mazela com que viera ao mundo, mandara arrasar os campos em redor do palácio, de tal maneira que, assomando pela manhã à janela do seu quarto, podia ver desolação e ruínas até ao fim e ao fundo do horizonte.
E quem isto ler e não for contar,
Em cinza morta se há-de tornar.

Encostado ao palácio, da banda das traseiras, havia um pequeno espaço murado que parecia uma ilha e que ali calhara ficar por estar a salvo dos olhares do rei, que muito mais se comprazia nas vistas da fachada nobre. Um dia, porém, o rei acordou com sede de outros desertos e lembrou-se do quintal que um poeta da corte, adulador como a língua de um cão de regaço, já antes comparara a um espinho que picasse a rosa que, em seu dizer, era o palácio do monarca. Deu pois o soberano a volta à real morada, levando atrás de si os cortesãos e os executores das suas justiças, e foi olhar torvo o muro branco do quintal e os ramos das árvores que lá dentro tinham crescido. Pasmou o rei da sua própria indolência que consentira o escândalo e deu ordens aos criados. Saltaram estes o muro, com grande alarido de vozes e de serrotes, e cortaram as copas que por cima sobressaíam.

E quem isto ler e não for contar,
Em cinza morta se há-de tornar.

(...)"

(José Saramago, "A História do rei que fazia desertos" in A Bagagem do Viajante, Crónicas, 6ª Edição, Editorial Caminho, 1999, pp.111)
José Saramago deixa-nos em todos os seus escritos o seu exemplo, as suas ideias e alertas, para nossa reflexão e acção, para nos sacudir de uma dormência e cegueira no modo como nos encaramos e encaramos o mundo e no tipo de acção que exercemos sobre ele, lembrando-nos, que "as misérias do mundo estão aí, e só há dois modos de reagir diante delas: ou entender que não se tem a culpa e, portanto, encolher os ombros e dizer que não está nas suas mãos remediá-lo -e isto é certo -, ou, melhor, assumir que, ainda quando não está nas nossas mãos resolvê-lo, devemos comportar-nos como se assim fosse." (Fundação José Saramago: "Responsabilidade", comentário de José Saramago extraído de La Jornada, México, 3 de Dezembro de 1998)

E se nos comportarmos como se tivessemos nas nossas mãos o poder de mudar o mundo para melhor, pelo menos, humanamente entre nós, e ecologicamente, na salvaguarda de um património natural comum a todos e fundamental para a nossa própria sobrevivência enquanto espécie, conseguiremos mudar o mundo, todos os dias, uma acção, um lugar ou uma pessoa de cada vez, até sermos muitos, até sermos todos a ter a consciência de que é realmente nosso esse poder e é essa a nossa responsabilidade.

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